Leon nasceu em Novembro de 89, anoitecia e chovia, uma tarde fria e melancólica para a família, já que acabaram de perder a casa em um incêndio causados pelos descuidos do agora tio de Leon.
Dinheiro nunca foi o maior problema da família, mas não podiam esbanjar, com a compra de uma nova casa e nova mobiliá talvez as coisas ficassem um pouco difíceis no futuro.
Leon foi crescendo e teve uma infância atribulada, apesar do frequente caos a sua volta, apenas não entendia o que acontecia, e os gritos vindos dos diversos cantos da casa eram por motivos que ele não fazia questão de entender.
Leon tinha uma precária estrutura familiar, e sua mãe o pôs na escola para enfim iniciar os estudos. Odiava aquele lugar, e desde cedo pensava em como se livrar das cobranças, bolava planos para destruir o carro e desmoralizar seus professores, mas nunca os realizou.
O mais próximo que chegou de realizar suas façanhas foi em suas frequentes brigas na escola, que constantemente o levavam a diretoria com a camiseta suja de sangue , vários uniformes tiveram de ser substituídos, ate sua mãe não poder mais compra-los, o que fez com que tivesse de usar o que estava menos manchado, e lhe causava grande constrangimento pois não gostava de parecer pobre para a escola, para sua tristeza era verdade, a família estava empobrecendo.
Leon cresceu e não concluiu os estudos, ainda em casa com seu tio frequentemente bêbado, resolveu dar um basta naquela situação, pois não suportava mais fingir não ver as marcas causadas no resto da família, e todo o dinheiro de sua vó transformar-se em álcool e outras drogas, o basta chegou em forma de pá, direto no osso parietal da seu tio, o impacto abriu o crânio como se fosse um melão, todos ficaram chocados com a cena, mas Leon sábia que no fundo todos estavam lhe agradecendo, afinal fez o que achou que tinha que ser feito, apesar da falta de diálogo aprendeu que a vida não deve ser desperdiçada em drogas que simplesmente fazem seu usuário esquecer dos problemas, vendo seu tio ele aprendeu a abominar pessoas assim, e decidiu então acabar com a situação, pois achava que a vida de seu tio fora então disperdiçada ate aquele momento, e que não haviam mais saídas para ele, fez enfim sua justiça.
Enxergou rápido que não poderia chamar aquele lugar novamente de lar, pois todos apesar de não sentirem falta do estrume dopado que antes ocupava ali um espaço, nao iriam aceitar o que fez Leon, apenas o que devia ser feito, os dogmas de seus pais a sua vó o viram apenas como um ser sem sentimentos , sua mãe não o reconhecia como filho e não entendia que aquele menino era produto de sua criação.
Leon estava com 19 quando foi morar no centro antigo de São Paulo, em um minimo espaço de um prédio dividido com outras famílias, ele se impressionava quando conhecia alguém do mesmo local que dividia o esmo espaço com 3 ou 4 filhos, achava um absurdo escutar estas estórias e sentia a revolta lhe corroer o peito ao imaginar tamanha irresponsabilidade, "matei um homem, mas fiz de uma vez, matar outro ser aos poucos é o pior dos castigos" ele costumava dizer isso ao ouvir coisas parecidas pois acreditava que a pobreza e a ausência dos pais eram o motivo de muitos hoje se encontrarem em situação de decadência. Ali naquele meio Leon aprendeu muitas lições, e apesar de julgar todos que ali moravam como preguiçosos, acreditava que sua situação era passageira, e que logo iria abandonar aquele lugar pois o seu destino iria mudar, e foi o que de fato aconteceu...
Certo dia Leon estava rumo ao seu emprego, suposto cargo de confiança que possuía em uma das pequenas empresas da redondeza, certamente uma faxada para esconder o que fazia durante seus hábitos noturnos, aliciando candidatos para experimentar os efeitos de seus chás de cogumelos criados com promessa de oferecer as mais intensas viagens espirituais. Tinha um local especifico para isso, do outro lado da cidade em uma zona industrial com vários galpões abandonados.
Logo ao sair da casa de seus pais Leon manteve fixa em sua mente a imagem de seu tio caindo imóvel no chão após receber o fatal golpe que lhe esfacelou o crânio, para suprimir o horror Leon foco-se no motivo de seu ato, que foi libertar a alma de seu tio para o devido julgamento, acreditava de fato ter feito um bem a outro ser, libertando-o. Com base nesta suposta libertação concedida a seu tio, Leon experimentou diversos métodos de libertação e auto conhecimento, ate chegar aos cogumelos alucinógenos que foram os que maior tangibilidade lhe trouxeram as suas experiencias.
Com a ajuda da internet divulgava suas experiencias, e passava mensagem que supostos seres de outra dimensão lhe diziam enquanto estava em transe, logo seguidores começaram a lhe pedir conselhos, que foram respondidos através de seus cogumelos. Criou um ambiente próprio para seus rituais, e começou a convidar interessados em participar de sua doutrina. Estava satisfeito, enfim sentia-se especial, a promessa de infância finalmente chegára, "esta é minha missão, salvar vidas, ou então envia-las para o julgamento".
Aqueles que experimentavam seus cogumelos e não atingiam a viajem espiritual que Leon propunha causavam lhe grande desagrado, e acreditava que existiam motivos para que estas portas não se abrissem para tais pessoas, foi então pedir conselhos dentro de uma de suas viagens. A resposta que conseguiu foi que tais pessoas eram fracas de espirito e portanto não tinham nenhuma crença e valor e vida, portanto deveriam ser enviadas para um julgamento adiantado.
Leon criou tamanha notoriedade em seu ocultismo, que mesmo tendo conhecimento do julgamento, haviam interessados que o procuravam com frequência para realizar as viagens, já que em histórias contadas por aqueles que haviam passado pela viagem e atingido o nirvana contavam hoje estarem felizes e prósperos. Diante de tal promessa Leon teve sempre vários seguidores, tudo fugia aos olhos das autoridades que ficavam sabendo de suas façanhas apenas por falácias, era conhecido pelos mais sensacionalistas como ceifador, isso lhe dava orgulho.
Seguiu por anos neste caminho, ate enfim ser descoberto pela policia, foi estampado como monstro na capa dos jornais, em uma das manchetes constava "Ceifador das Docas matava vitimas e queimava os corpos em caideiras abandonadas". Leon esta recluso em uma clinica psiquiátrica e contam que mesmo sem os cogumelos ainda se comunica com espíritos. Sua mão já uma senhora consta-se como louca, pois não acredita nas histórias que lhe contam, entende apenas ser a história de alguém com uma vida que deu errado, talvez tenha de fato lhe faltado um luz de amor.