Não à muitos anos eu estava ali, na beira mar com meu barco,
com a praia a vista e toda a paisagem deslumbrante me garantindo um retorno
seguro em caso de problemas.
Sempre atento aos perigos do oceano me mantive alerta ao
quebrar de cada onda, para que meu barco permanecesse estável e intacto.
Mas o tempo nos deixa gananciosas, curiosos, e a vontade de saber
o que há além das ondas que quebram se torna cada vez maior.
Há tempos um pensamento me incomodava, soube de historias de
navegantes exímios, que mesmo com seus barcos já fragilizados permaneciam indo
mais e mais fundo nesse oceano de aventuras, com historias e mais historias
para contar de uma vida que eles faziam questão em dizer que estava sendo bem
vivida.
Então eu me perguntava, "Com qual força queima a chama
de meu espírito dentro deste barco seguro?"
Então um vazio tremendo começou a tomar forma, e a paisagem
conhecida já não parecia mais tão bonita.
Essa inquietação fez eu me descuidar das ondas que
quebravam, e o mar como se num chamado, foi me tragando para dentro de si, cada vez
mais e mais para o fundo, sem que eu também intervisse.
Hoje me deixo levar para onde queira o mar, e confesso não saber onde estou, mas garanto que as histórias
que um dia ouvi são verdadeiras, e de fato tudo o que falam sobre os perigos do
oceano também são verdade, mas são perigos que somente se enfrentados cara a
cara é que são recompensados, e fazem aos poucos a chama de meu espírito brilhar
outra vez.
O vazio ainda me
chama de vez em quando, mas a visão das estrelas durante a noite é incrível por aqui, e
apenas a possibilidade de poder vê-las novamente na noite seguinte, me garante
forças para passar os dias cercado de sal, e das frequentes tempestades.
Hoje eu sei o porque navegar é preciso.
