Um Operário sem Sonhos

Havia em uma fábrica um operador de maquina desmotivado, ele estava cansado de tudo, e aquela maquina e a maneira como ele a operava já não lhe prendiam mais a atenção.

Operar a mesma maquina por tantos anos do mesmo modo deixou de ser um desafio, e também não tinha vontade o suficiente para buscar novos modos de opera-la, o que poderia trazer um alívio a sua rotina, e de novo aquela sensação de dever cumprido e satisfação.

O operador estava completamento desconectado dos objetivos de sua função, vagava em pensamentos imaginando como sua vida seria melhor se ele fizesse as coisas que amava.
Mas de tanto pensar em qual seria a melhor escolha, ele chegou a uma grande pergunta. Viu que não tinha nada em sua vida que lhe prendesse a atenção verdadeiramente, nada que pudesse passar horas a fio entretido sem ver o tempo passar, nada que amasse de fato.

E isso lhe preocupou...

Já não bastava a rotina, agora ele tinha esta nova pergunta:

"Se eu deixar de ser um operador de maquina, o que serei? Não a mais nada que eu saiba fazer!" Lamentava ele.

Pensou que sua vida não poderia se resumir a isso, crescer, trabalhar e morrer.
Ele viu então finalmente que era apenas mais um em meio a multidão.


Sempre escutou histórias de superação, sobre determinação, e como aqueles que não batalham pelos próprios sonhos, são pagos para batalhar pelos sonhos de outros. Mas não dava muita importância, pensava que sua hora chegaria um dia.

No seu almoço ele reparava em outros funcionários, alguns bem vestidos, cheios de orgulhos, com o rabo abanando pelo ultimo tapinha nas costas recebido pelo dono da fábrica. Ele não sentia nada sobre estes durante muito tempo, mas quando se viu perdido e sem planos, descobriu pela primeira vez o que significava a palavra Inveja.

Este pobre homem, se é que podemos chama-lo assim, vagava de Domingo a Domingo sobre seus devaneios, lamentava suas escolhas e sonhava sobre como a vida seria melhor se ele ao menos tivesse um caminho para seguir, mas ele se sentia o homem mais pobre do mundo, se sentia assim pois nem mesmo um sonho ele tinha, tinha apenas desejos.

O operário sabia que precisava mudar, sabia que mesmo não tendo um sonho precisava continuar operando a maquina para pelo menos poder continuar tentando sonhar, mas a vida não poupa esforços para te ferrar quando ela quer, sabemos bem disso...

Até que um dia finalmente o pobre homem cometeu um erro fatal, em um momento de desatenção causado por um de seus devaneios, o operário deixou a máquina passar do ponto que deveria, tanta pressão fez estourar canos e parafusos para todos os lados, que por sua vez encontraram alvos fáceis nos corpos próximos a máquina.

Surpreendentemente nada aconteceu com o operário, como se fosse uma especie de sorte ao contrario ele viveu, e pode escutar e digerir lucidamente todas as consequências da sua incompetência assassina.

Ele matou operários, pais, filhos, homens que tinham sonhos, homens de mais valor que ele.

Nada mais restava ao nosso operário senão a angustia. A angustia da negligencia e o tormento de conviver com o fardo de ser um peso morto neste mundo onde todos podem ter tudo, menos o nosso personagem.

Não porque ele não podia ter, mas sim porque ele não QUIS ter.